quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Depoimento de Edivar Bedin sobre Segurança Interativa (Polícia Comunitária)

Em maio de 1995, após palestra sobre o Sistema Qualidade Total, realizada na Associação Comercial e Industrial de Xanxerê (ACIX) proferida pelo Prof. Faustino Vicente, Presidente da Associação Anhanguera, de Campinas SP.
Depois da palestra, indaguei a ele sobre a possibilidade de implantação do Sistema no Quartel sob meu comando. O professor afirmou ser impossível, pois, nunca ouvira falar de que, em algum Estado, no serviço público fosse implantado o Sistema de Qualidade Total.
Disse também, que não acreditava ser possível, pelas características da prestação dos serviços pelo Estado.
Após algum tempo, ainda na mesma noite, incentivado pelo então presidente da Associação Comercial de Xanxerê, Celso Mattiolo, que lhe custearia as despesas com hotel e, nós (PM) lhe daríamos a alimentação, aceitou. "Como um desafio", disse ele.
Fomos o laboratório, pois, no serviço público não havia até aqueles dias, em nenhum órgão de Estado o Sistema Qualidade Total.
           Durante o Curso, na fase de brainstorm os grupos concluíram que, primeiramente, deveria ser verificado o nosso conceito, junto à comunidade. Novamente a CDL e a ACIX nos ajudaram. Contrataram uma empresa de pesquisa, da cidade, para essa avaliação. Foram colocadas urnas em estabelecimentos comerciais, bares, lanchonetes, postos de combustível, e, um questionário com dez questões.
A conclusão, após oito dias, nos surpreendeu a todos. A comunidade não sabia a diferença entre as Instituições, as atribuições de cada órgão, entre a Polícia Civil e a Polícia Militar, da Justiça.
Diziam sermos os responsáveis pela delegacia que estava fechada, pelo ladrão que estava solto, e outras dezenas de equívocos.

No último dia do curso, após analisar as respostas, os grupos, sempre orientados pelo professor Faustino Vicente, todos, decidiram que deveria investir na melhoria da imagem da PM na comunidade, integrando-nos.  
Que deveríamos filmar nossas ocorrência e enviar para a televisão - na época a RCE TV atual RIC – que não faziam reportagens à noite.
            E daí, "como fazer isso", era problema para o Comandante (eu) resolver.
            A câmara, uma M1000 foi doada pelo amigo-atirador-empresário Danilo Vanzin.
Era muito pouco o efetivo de 30 (trinta) policiais militares para uma cidade com 45.000 hab. na época.
Já tinha ouvido falar de um sistema adotado pela Polícia de Nova Iorque, mas, não o conhecia. (A internet estava sendo criada).
Lembrei que meu pai contava que ele foi “Inspetor de Quarteirão”, que ele ouvia e atendia a comunidade, intermediando a solução de problemas.
Esse, com pequenas alterações poderia ser o nosso modelo, a nossa forma de aproximação e integração com a comunidade.
O Projeto foi denominado de SEGURANÇA INTERATIVA.
A cidade de Xanxerê tem 28 Bairros, em cada um deles, um Centro Comunitário e um líder. Como primeira medida, decidi convidar os 28 (vinte e oito) líderes comunitários, para uma reunião, na sala de aula do Quartel. Vieram quatro.
Fiz a reunião como fora programada, expliquei as razões, necessidade e, como eu poderia ajudá-los. Os quatro aprovaram a idéia e se comprometeram a contar aos outros líderes, que não vieram, sobre a importância dessas reuniões. Foi nessa reunião, com os quatro líderes, o Tenente Colpani e eu, que decidimos o nome para nosso grupo: Conselho de Líderes Comunitários – CLIC
A próxima reunião foi oito dias depois. Para garantir, mandei ofício convidando e informando que, caso alguém necessitasse de transporte, haveria viatura para buscá-los. Um, veio de viatura. Vários trouxeram um amigo "que veio dirigindo", o outro trouxe o amigo que "estava em sua casa, de visita". Na real, todos muito desconfiados.
A sala de aula estava cheia. Nós tínhamos preparado três cuias de chimarrão e café com bolacha "Maria". Expliquei a eles que o motivo do nosso encontro era para que eles me ajudassem a ajudá-los. Sobre a mesa, na frente do quadro, em uma TV pequena com vídeo cassete, mostrei as filmagens das ocorrências dos últimos oito dias. As cadeiras foram colocadas em círculo, mais à vontade comentavam, "esse ladrão mora na casa..." "esse tem uma zona, perto da casa do fulano". Aqueles que ninguém conhecia, o Sargento Valmor, da P2 (que era encarregado da ata) anotava o  nome e o local, para averiguação.
Assim, a cada 15 dias, as reuniões iniciavam com a apresentação de vídeo, das principais ocorrências atendidas na quinzena, dando-lhes a oportunidade de verem um pouco da nossa atividade, de maneira real e sem distorções, e nós, de complementarmos as informações da ocorrência.
Adotamos a metodologia que aprendemos na "Qualidade Total". Cada líder traria apenas 02 problemas, seria 56 no total. Os 28 líderes escolheriam 10 (DEZ) e colocados em ordem de prioridade, o mais grave no início da lista.
Todos queriam que o "seu" problema fosse para a lista. As discussões e argumentações eram interessantes, às vezes tínhamos que interferir para não dar briga, havia propostas de todo o tipo. Até compra de voto aconteceu.
Eles traziam, desde falta de luz na rua, até esgoto na via pública. Eram muitos problemas. Eu, de posse de uma lista interminável, ia à Prefeitura, principalmente, tentar convencer o prefeito Julio Bodanese, que era muito meu amigo, a resolver os problemas.
Na reunião seguinte, eu apresentava os itens resolvidos e, no lugar desses, outros novos poderiam ser acrescentados. Aqueles que não foram resolvidos ocupavam posição anterior. Ou seja, o item número 10 de uma lista, se os 09 anteriores fossem resolvidos, seria o primeiro na próxima lista.
As reuniões eram das 20:00H às 22:00H. Tivemos que antecipar das 18:00H até 00:00H.
Com o tempo algumas reivindicações foram ficando sem solução, eu ia até o Prefeito Julião e voltava sem resolver. Uma das atribuições do CLIC era apresentar proposta de solução, ficando pendentes apenas os mais difíceis. Eu precisava de ajuda.
O bom de morar em cidade pequena é que a gente conhece a todos. Juiz, promotor, padre, vereador, diretor da escola, da TV, o dono da rádio, presidentes de clubes, associações, gerente de banco, celesc, telesc, casan, por aí vai.
Convidei todos para reunião no espaço da câmara de vereadores. Compareceram 18 (dezoito) entidades do município, entre elas, o Judiciário, Ministério Público, Poder Executivo, Legislativo, Imprensa, Clubes de Serviço, representante das AAPP, representante (eleito) do CLIC e, donas de casa. Na assistência, os 27 líderes do CLIC.
Nessa primeira reunião foi denominado o grupo: Conselho de Segurança – CONSEG. Foi lida a ata da reunião do CLIC e após leitura, encaminhávamos para a solução dos problemas apresentados.
O CONSEG encabeçou movimento para que fosse viabilizado o aumento do efetivo e construção da sede própria da Companhia, em terreno doado pela prefeitura, pelo então prefeito Doílio Moschetta.
O único problema que cabia a nós, Polícia Militar, não estávamos conseguindo resolver. As escolas, bairros, organizadores de festejos, etc. nos enviavam solicitações de policiamento e nós, estávamos praticamente sem efetivo para atendê-los.
Como “problema” a ser resolvido, encaminhei ao CLIC propondo a solução.
Propus que ELES trabalhassem. Seriam criados pequenos grupos, denominados de “Comissão de Ordem”. A Comissão de Ordem seria presidida pelo presidente do Conselho Comunitário (membro do CLIC) e composto por 05 (cinco) pessoas escolhidas ou eleitos pela comunidade (bairro) e atuariam em eventos (festas, bailes, etc.) mediante solicitação ao Comandante da 4ª Companhia. Estariam uniformizados com coletes cor laranja, escrito nas costas “Comissão de Ordem – bairro "tal”.
Se fosse necessário, os membros dessa Comissão chamariam a PM e atuariam no problema, até a chegada da Guarnição de Rádio Patrulha que assumiria a situação.
           Tivemos 21 Comissões de Ordem, com 91 participantes, em funcionamento. Reduziu muito as ocorrências, tipo briga, embriagues e desordem.
Muito pouco podia fazer, mas o que fazer e como fazer, descobrimos junto com a comunidade que nos apoiava, formando assim, uma rede de colaboradores.
Muito se fez, mas, faltava a sede própria. Éramos uma Unidade sem quartel.
           Esta batalha também foi vencida, no dia 18 de novembro de 1998 foi assinado o Contrato para início da obra. Tivemos aliados no Poder Público e políticos, mas especialmente, rendemos homenagens por isso, a Associação Comercial e Industrial (ACIX).
            Estes projetos “SISTEMA DE QUALIDADE TOTAL” e “SEGURANÇA INTERATIVA” foram divulgados em nível nacional, pelo Prof. Faustino Vicente.
Fica aqui demonstrado que, com um pouco de vontade e muita participação é possível, além de aumentar a “sensação” de segurança, proporcionar segurança REAL.
Enfim, foi em Xanxerê que teve início a “Qualidade Total” no serviço público e Segurança Interativa, o embrião da Polícia Comunitária, na Polícia Militar.
            Segurança pública é PRÁTICA.
                Por todos e por tudo isso, juntamente com a saudade, levo XANXERÊ no coração.


Depoimento retirado do blog de Edivar Bedin

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Você se julga um empreendedor? Então como você tem empreendido suas tensões?

               Todo e qualquer e ser humano que, de fato, vive no século XXI, tem de aprender a lidar com constantes e intensas tensões. Estamos no século do estresse, das doenças psicossomáticas (depressão, etc.), dos gigantescos congestionamentos no trânsito, da competitividade elevadíssima no mercado de trabalho, entre outras cobranças do tempo.
                É inevitável, a tudo isso temos que dar uma resposta todos os dias. Tais tensões se aglomeram sobre nós, e tudo de maneira rápida e exigente demais para nos permitir pensar e refazer adequadamente nossas forças e esperanças.
                Vivemos em um mundo de embates e cobranças, e isso em todas as circunstâncias e para todo gênero de pessoa. É comum que já nasçamos – de uma forma ou de outra – sendo exigidos pelas circunstâncias que configuram nossa realidade.
                Diante de tal cenário não adianta nos escondermos buscando fugir da vida e dos desafios que ela comporta, ao contrário, faz-se necessário encontrar uma maneira sábia e encarnada para gerir as tensões que se lançam sobre nós.  Sempre enfrentaremos tensões – é ilusão crer no contrário –, contudo, é preciso aprender a conviver bem com essa companheira de nosso tempo, administrando coerentemente nossos excessos e ausências.
                Há quem lide com suas tensões cotidianas desafogando-as em vícios, outros em uma vida promíscua e depravada (adultério, pornografia, etc.), alguns ainda em mentiras e fugas multiformes. Quem não fabrica um jeito sábio e correto – sob uma luz Maior – para gerir suas tensões, acabará por se tornar escravo destas, se escondendo em supostas "válvulas de escape" que lhe roubarão de sua verdade e liberdade.
                Todos precisamos gerir/aliviar nossos desencantos e tensões, todavia, permanece sobre nós a possibilidade da escolha de como isso realizar. Se elegermos o erro – em linguagem teológica, o pecado – como via de gerência destes embates da vida, esse se tornará para nós um enorme laço que nos ocultará do que somos. É necessário gerir as tensões com inteligência, descobrindo no bem, maneiras sadias de renovar as próprias energias e disposições.
                Quem confia seus dissabores a uma Força que lhe supera e abarca, poderá com certeza, impulsionado por tal gerência, superar e administrar com excelência sua própria existência e as lutas nela contidas. Como temos gerido nossas tensões? Que cada um se pergunte e, posteriormente, lute para fabricar a melhor forma de fazê-lo. Não permitamos que nossas tensões nos governem, mas aprendamos a geri-las com sabedoria e profundidade, descobrindo maneiras sadias para equilibrar nossas lutas e gastar nossas energias somente com aquilo que nos é essencial.
                Gerir as próprias tensões com sabedoria é uma verdadeira exigência em nosso tempo. Busquemos empreender com perseverança e empenho tal realidade, para podermos saborear os belíssimos frutos de tal conquista.


Adriano Zandoná verso.zandona@gmail.com